ATELIÊ CASA 9
Não é um coletivo, mas um espaço-laboratório.
O Ateliê Casa 9 é um espaço físico utilizado por diferentes indivíduos para articular propostas artísticas e praticar devaneios filosóficos. Através de atividades como exposições, oficinas, mutirões, conversas/debates e outras produções de conteúdo artístico - filosófico - político, geram-se vivências nesse lugar. Essas vivências são racionalizadas pelos moradores da casa que discutem entre si consensos e divergências que consideram pertinentes, cabíveis a forma de vida que estão experimentando. Nesse espaço, trabalho e cotidiano artístico tende a se fundir e tornar-se uma única coisa. O Ateliê Casa 9, não se trata, portanto de um coletivo, mas de um local de experiências, criado por indivíduos que alugavam o espaço com recursos próprios para trabalhar propostas pessoais e coletivas. Além desses indivíduos, que são gestores orgânicos, o local possui colaboradores externos que participam da construção de atividades.
Apesar de já ter sido utilizada para fins semelhantes anteriormente, somente em setembro de 2013, começou a se trabalhar a ideia de um espaço livre para a circulação e construção de propostas de exposição e oficinas. Evelíny Pauler Pedroso, Mirieli Costa e Jorge Gularte passaram a utilizar o espaço para realizar exposições de artistas locais e fazer oficinas de permacultura e cerâmica. Com a abertura das exposições para visitação de turmas escolares, formou-se uma parceria com a escola Edna May Cardoso, instalada no mesmo bairro que o Ateliê Casa 9 se localiza e criou-se o “Cine Sonho”, cineclube proposto por Mirieli que utilizava um datashow cedido por uma das professoras dessa escola. Nesse momento o Ateliê funcionava quase com uma mentalidade institucional, tinha horários e metas: 2 exposições mensais e pelo menos 1 oficina mensal. Os artistas expositores cediam trabalhos para serem rifados na noite da exposição e oficinas eram pagas, a fim de contribuir com gastos da casa. Havia uma preocupação em fazer a casa se auto sustentar, coisa que nunca aconteceu de fato. As maneiras encontradas para gerar o dinheiro necessário para pagar contas não era o suficiente e os moradores tinham que manter empregos paralelos. Em 2014, Evelíny e Miriele deixaram o Ateliê Casa 9 e três outros integrantes somaram-se à ideia e foram morar na Casa 9: Marília Jeffman, Eduardo Moreira e Lucas Wommer.
Nesse momento houve uma mudança de metodologia na casa. Com a entrada de dos novos moradores, a casa passou a ter direcionamentos mais políticos, ampliando as relações das vivências. Nesse momento é que começou a se pensar a casa sob o conceito de espaço-laboratório, onde a casa é esse espaço e nela constroem propostas e as vivenciam, fazendo disso uma pesquisa pessoal que transforma o próprio cotidiano do artista que se propõe a isso. E não só as relações internas foram modificadas, mas as externas também, o Ateliê passou a ser espaço de experimentação para outras pessoas a partir do evento denominado “Findi Arte”, onde a casa foi “aberta” para abrigar várias atividades artísticas simultâneas em 72 horas consecutivas de produção. Recebeu também, propostas “de fora”, de pessoas que passaram a construir o espaço junto aos moradores da casa. Criou-se o “Sarau dos Atrevidxs”, um evento mensal que aborda a produção de poesia nas mais variadas formas, proposto por dois estudantes de Artes Cênicas: Karina Maia e Jean Moralles.
Ainda sob o efeito da ajuda mútua e as relações externas que se criaram, o Ateliê Casa 9 ampliou as atividades com a construção de um espaço para serigrafia e um estúdio musical através de recursos próprios e doações. Criou-se também uma biblioteca com variado acervo sobre política, filosofia e arte, além de uma horta orgânica.
Em 2015, com a saída de Marília e Lucas, foi morar mais dois indivíduos, os estudantes de Artes Cênicas Thiago Brenner que teve uma breve passagem pela casa e Cleber Vivian que firmou-se como novo integrante do espaço. A presença de Ambos ofereceu aos moradores uma relação mais direta com o teatro e iniciou uma nova fase de experimentações. Atualmente funciona com o apoio da Rede de comunidades Autogestionárias.
LABORATÓRIO DE ARTE-GESTÃO
Espaço de Arte-Gestão. Gerir arte no espaço¿ Gerir o espaço com arte? Arte-Gestão como conceito de ação no espaço? O que é arte-gestão? Pode ser tudo isso e mais. O espaço da casa 9 é espaço de experiência de arte e de gestão, primeiro por que nos propomos não só a produção mas o pensar arte, e segundo por que essa prática e pensamento se refletem na maneira em que gerimos o espaço. Na vivência diária da casa, os moradores se propõem não ser apenas artista na hora de pintar, desenhar, atuar ou filosofar, mas quando cuida da horta, quando limpa seu quarto, o banheiro ou a cozinha, quando pinta as paredes da garagem para fazer exposição, quando organiza o estúdio de música, quando arruma o vazamento no encanamento. Tudo na casa é atividade passiva de reflexão e experiência estética e tudo acaba falando sobre como cada indivíduo se organiza em sociedade, como lida com dificuldades domésticas e com o convívio com o outro. A arte nesse espaço pode ser entendida de uma perspectiva da magia se entendermos essas práticas como uma tentativa de compreender a realidade em que os artistas se encontram e de certa forma apoderar-se de suas “rédeas”. Praticar arte no dia-a-dia faz parte do plano de estar sensível à realidade e com isso desconstruir a própria vivência. Descondicionar-se. Enfrentar o que não domina. A arte no espaço-laboratório não é encarada como mera fruição estética, mas como prática transformadora.
Essa abordagem, de certa forma primitiva, da arte abordada por alguns moradores está também relacionada aos hábitos que os frequentadores externos do espaço-laboratório mantêm: agrupam-se em uma espécie de tribo. Todos se conhecem e freqüentam os mesmos lugares, possuem afinidades, a maioria das vezes essa afinidade é a própria arte. A arte é a responsável pelas relações que se criam na casa 9, pelos trabalhos, conversas e trocas, porque foi a partir dela que o espaço foi criado. Nesse caso a arte é um elemento mágico que une todos em prol de práticas em comum. Práticas que assumem significados diferentes para cada um, mas que fazem parte de um consenso no que se acredita ser e no que pode vir a ser produtivo como vivência.
Arte-Gestão é unir a prática mágica do encontro em torno do fogo com a realidade política a qual estamos aparentemente amarrados. Manter a sensibilidade de artista e resistir à robotização do capital. Magia e técnica, arte e política. O espaço-laboratório é o lugar de experimentar esses conflitos.

